" u n d e r m y s k i n "
de Inez Wijnhorst,
G a l e r i a M o n u m e n t a l
Campo dos Mártires da Pátria, 101
Lisboa
telf. 21353 38 48
8 de Maio a 21 de Junho, de terça a sábado, das 15h00 às 19h30
" O múltiplo é, não apenas o que tem muitas partes, mas também o que está dobrado de muitas formas."
Gilles Deleuze, A dobra
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Quantos gestos são precisos para ordenar o mundo, para o dobrar e guardar em caixas?
A procura de sempre. A inquietação que nos traz ocupados. A procura da ordem oculta das coisas. Primeiro a geometria. O sentido que organiza o aleatório tornando-o inteligível. Acreditar. Querer crer numa estrutura do caos. Concentrar a inteligência na trama rigorosa do pensamento matemático e sobrepô-lo ao mundo.
Em seguida usar a ironia da ilusão. Recriar engano antigo, roubado a outras culturas, de inventar a dimensão oculta, a terceira dimensão no mundo da tela. Aglutinar a forma, repeti-la sem limite, revelando o que não existe, inventando a impossível profundidade. Herança de quem ousou imaginar as leis da perspectiva ou de quem rasgou uma tela. Deixar ver para lá dos dois eixos. Amplificar a falsidade com a ilusão da luz. Escurecer o fundo. Usar a mancha e a linha branca para cortar a tela e remontá-la outra vez. Dobrar a tela infinitamente. De forma sempre diferente. Repetir as três figuras geométricas simples e experimentar a ilusão de serem sempre distintas.
Depois, o desenho da caixa. A aproximação à imagem do objecto, daquilo que a mão conhece. Transformando o nível abstracto do pensamento geométrico e atribuindo-lhe uma familiaridade quase doméstica. Repetir o gesto, somando as mesmas formas, tornando-as distintas. Ler nestas formas os dias, de tal forma diversos que não acreditamos que são feitos sempre da mesma matéria: de horas, de estações do ano, de segundas e terças-feiras. Sobre estas caixas, iguais e outras, redesenhar a vida, soltando-a da trama, desrespeitando os seus limites. Os factos e as imagens das escadas, das mesas e dos barcos de papel. As caixas, as casas e os corpos.
Outra vez soltos, impossíveis de circunscrever no interior da trama que se descobriu. Tropeçamos de novo no mundo, nos objectos fora de sítio, nos factos fora de sítio, indiferentes à mais elementar das lógicas. A experiência individual sempre pronta a escapar ao entendimento. São sempre assim os factos, dificilmente compreensíveis. Há que guardá-los em caixas. Serão, pelo menos, nossos.
Sofia Pinto Basto, Maio 2008
3 comentários:
Adorei a foto.
Adorei! simplesmente adorável.
Agora já percebí...:)
terás surpresa, prometo.
bj
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