quinta-feira, fevereiro 28



"O problema da tradução da poesia fica dividido entre duas noções: a de textualidade e a de literalidade. A literalidade corresponderia ao que seria a reprodução integral do próprio sentido; a textualidade, à manifestação verbal do poema considerada em si mesma. É sabido que a tradução literal em poesia é impossível porque compromete infalivelmente o poema no seu todo. Na poesia há, com efeito, valores que não são só semânticos. É o caso do ritmo, da rima, dos acentos, da entoação, etc.

A tradução poética põe problemas complexos, relacionados com o facto do poema traduzido se increver num novo espaço verbal, o da língua de chegada. Aí, os significantes são deferentes e as palavras, nessa passagem de uma língua para outra, não encontram a mesma rede conceptual em que os sentidos se posicionam. A tradução confronta-se com essas experiências diversificadas. Por isso, a língua de chegada, no caso da poesia, tem de viver de múltiplos compromissos e, até, de artifícios em que se conjuguem os referidos valores semânticos e rítmicos. O lugar dessa chegada tem que ser também um poema. Tem de passar da literalidade para a textualidade.

No livro "Através do Ar", de autoria de Casimiro de Brito e Ban'ya Natsuishi, a questão já está resolvida (em quatro línguas: japonês, português, inglês e francês). Encontramos várias versões de haiku a partir de poemas alternadamente traduzidos pelos autores. Cada um deles aparece também em tradução inglesa deste género poético japonês que é Stephen Rickert, falava na "arte do inacabado". Trata-se, com efeito, de um género sumamente elíptico. Ele vive de sugestões, de impressões ambiguamente visualizadas, de condensações. Há uma referência nesses poemas a uma realidade fugitiva, evanescente.
Consideremos este poema de Casimiro de Brito:

Não te esqueças de mim,

dizem os homens uns aos outros,
afastando-se.

As traduções que o livro inclui são como ondas concêntricas em torno do mesmo instante poético. Ora a palavra ondulação talvez seja uma das que mais se adequam ao espírito do haiku: as imagens visuais - derivadas quase sempre da Natureza - estão presentes, mas perdem a sua acuidade perceptiva para ganharem outro registo. O seu sentido literal, no acto de leitura, fica desfocado. Mas - acrescente-se - não desaparece... A noção de afastar-se, no haiku citado, ficou a oscilar entre o sentido da despedida e de radical esquecimento. Qual destes prevalece?"


excerto de "crónica de poesia" , de Fernando Guimarães - JL



quarta-feira, fevereiro 27



alice jorge (1924 - 2008)







Ilustrações para o conto História de Juder, o Pescador ou o Saco Encantado, traduzido por João Gaspar Simões (1903-1987), de O Livro das Mil e uma Noites, volume III (1959).



segunda-feira, fevereiro 25



BD Marjane - Persépolis


Marjane, iraniana. Aos 9 anos presencia a revolução islâmica no Irão, que leva à prisão milhões de pessoas e passa a obrigar o uso de burca pelas mulheres.

Com o início da guerra entre o Irão e o Iraque, os pais mandam a pequena Marjane para estudar na Áustria. Com 14 anos, enfrenta as dificuldades da adolescência numa terra estrangeira.

Terminado o secundário, Marjane põe a burca e volta para a tirânica sociedade iraniana, passando por um difícil período de readaptação. Aos 24 anos, sem poder viver calada diante das hipocrisias do seu país, muda-se para a França em busca de um futuro mais optimista.

Autobiográfico, Persépolis ganhou o prémio de melhor BD em Cannes.

fonte: marie claire


domingo, fevereiro 10






chuva de pessoas
estranhas
simpáticas
porém, estranhas
conhecem
gostam
difamam
não querem saber