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sexta-feira, junho 27

Diário de Inverno - Paul Auster






A simplicidade com que o autor nos revela episódios da sua vida, em cerca de 180 páginas, faz com que este livro seja um objecto que viaja connosco diariamente. E depois, o tempo está a esgotar-se, nas palavras de Auster, que conta 64 anos e sente a urgência de por em palavras as suas memórias.

"1952. Cinco anos, nu dentro da banheira, sozinho, suficientemente crescido para te lavares sem ajuda, e, quando te estendes de barriga para cima na água quente, de repente o teu pénis põe-se em sentido, rompendo a linha de água...reparas que a cabeça do teu órgão masculino circundado se parece extraordinariamente com um capacete...esta revelação agrada-te, na medida em que, naquela altura da tua vida, a tua maior ambição é seres bombeiro quando fores grande, porque consideras que é a profissão mais heróica à face da terra...e portanto vinha-te a calhar ter um capacete de bombeiro em miniatura a adornar a tua pessoa..."

"Escusado será dizer que tosses, principalmente durante a noite, quando estás deitado de barriga para baixo...e naquelas noites vais para outro compartimento e tosses furiosamente...o teu amigo Spiegelman (o fumador mais furioso que conheces), sempre que lhe perguntam porque fuma, responde invariavelmente: "Porque gosto de tossir."


"...e foi nessa altura que a questão do casamento veio pela primeira vez à conversa entre os dois, não apenas viver juntos debaixo do mesmo teto mas também unidos pelo matrimónio, era isso que ela queria, disso fazia questão, e tu, muito embora tivesses decidido não voltar a casar-te, disseste que sim, que com todo o gosto te casarias com ela se era isso que ela queria, porque nessa altura já a amavas havia tempo suficiente para saber que tudo o que ela quisesse era também o que tu querias..."

sábado, outubro 13



Um dos novos nomes da literatura nova-iorquina dos anos 80, Auster sempre teve uma certa ligação ao cinema, e foi como guionista de Wayne Wang que decidiu estrear-se no cinema, fazendo de "Blue in the face" (entre nós "Fumo azul") o companheiro do filme daquele autor, "Smoke" (simplesmente "Fumo"). Mais tarde, "Lulu on the bridge" autonomizaria, de certa forma, o seu estatuto legítimo também enquanto autor de cinema.

Filmado em Portugal, com produção de Paulo Branco, "A vida interior de Martin Frost" (estreia dia 11 Out), dir-se-ia um filme inevitável, para Paul Auster. Na história, um escritor escreve um livro sobre um homem que escreve um livro. Assim, Paul Auster é o realizador/escritor que escreve um filme sobre um escritor que escreve um livro sobre um homem que escreve um livro. Parece complicado, mas é, afinal, tão simples.

Simples, como a verdadeira história do filme e as suas personagens. Ele é o escritor. Ela é a musa, ao lado de quem acorda um dia, espantado. Afirmado assim parece que se está a desvendar a trama. Afinal, a surpresa também não demora mais do que uns minutos a desvanecer-se. Será essa mesmo a grande limitação do filme, a sua previsibilidade e pouca densidade dramática.

Grande parte do filme foi filmado nas Azenhas do Mar, tentando criar um ambiente californiano.