sexta-feira, junho 27

Diário de Inverno - Paul Auster






A simplicidade com que o autor nos revela episódios da sua vida, em cerca de 180 páginas, faz com que este livro seja um objecto que viaja connosco diariamente. E depois, o tempo está a esgotar-se, nas palavras de Auster, que conta 64 anos e sente a urgência de por em palavras as suas memórias.

"1952. Cinco anos, nu dentro da banheira, sozinho, suficientemente crescido para te lavares sem ajuda, e, quando te estendes de barriga para cima na água quente, de repente o teu pénis põe-se em sentido, rompendo a linha de água...reparas que a cabeça do teu órgão masculino circundado se parece extraordinariamente com um capacete...esta revelação agrada-te, na medida em que, naquela altura da tua vida, a tua maior ambição é seres bombeiro quando fores grande, porque consideras que é a profissão mais heróica à face da terra...e portanto vinha-te a calhar ter um capacete de bombeiro em miniatura a adornar a tua pessoa..."

"Escusado será dizer que tosses, principalmente durante a noite, quando estás deitado de barriga para baixo...e naquelas noites vais para outro compartimento e tosses furiosamente...o teu amigo Spiegelman (o fumador mais furioso que conheces), sempre que lhe perguntam porque fuma, responde invariavelmente: "Porque gosto de tossir."


"...e foi nessa altura que a questão do casamento veio pela primeira vez à conversa entre os dois, não apenas viver juntos debaixo do mesmo teto mas também unidos pelo matrimónio, era isso que ela queria, disso fazia questão, e tu, muito embora tivesses decidido não voltar a casar-te, disseste que sim, que com todo o gosto te casarias com ela se era isso que ela queria, porque nessa altura já a amavas havia tempo suficiente para saber que tudo o que ela quisesse era também o que tu querias..."

domingo, outubro 3







Imagens
que voltavam devagar,
se encostavam a ela sem pudor.
E no silêncio, a esfinge impenetrável,
sabendo-lhe de cor o coração:
desistente dos barcos,
depondo pelo chão de outros palácios
as armas mais preciosas.
“Não posso”, acrescentara
sentindo aproximar-se a hora
exacta.


segunda-feira, outubro 5




A Bomba e o General - A história do átomo que não queria ser bomba

Era uma vez um átomo.
E era uma vez um general mau com uma farda cheia de galardões.
O mundo está cheio de átomos.
Tudo é feito de átomos: os átomos são pequeníssimos e, quando se juntam, formam moléculas que, por sua vez, formam todas as coisas que conhecemos.

A mãe e o pai são feitos de átomos. O leite é feito de átomos. A mulher é feita de átomos. O ar é feito de átomos. O fogo é feito de átomos. Nós somos feitos de átomos. – Oh, se não tivéssemos deixado que os generais construíssem bombas! – diziam.
Só que era demasiado tarde. Todos fugiam das cidades. Mas onde podiam refugiar-se?

Entretanto, o general tinha carregado as suas bombas num avião e estava a lançá-las uma a uma sobre todas as cidades. Mas, quando as bombas caíram, como estavam todas vazias, não rebentaram!
E toda a gente, feliz por ter passado o perigo (até parecia mentira!), as usou como vasos de flores.
Descobriram assim que a vida era mais bela sem bombas. E decidiram nunca mais fazer guerras.

Os átomos encerrados nas bombas estavam muito tristes. Por causa deles, ia haver uma enorme catástrofe: iam morrer tantos meninos, tantas mães, tantos gatinhos, tantas cabrinhas, tantos passarinhos, todos, afinal. Seriam destruídos países inteiros: onde antes havia casinhas brancas de telhados vermelhos e verdes árvores à volta… só ficaria um horrível buraco negro. E assim resolveram revoltar-se contra o general.

E uma noite, sem fazer barulho, saíram todos das bombas e esconderam-se na cave.
Na manhã seguinte, o general foi ao sótão com outros senhores.
Estes senhores disseram:
– Já gastámos um dinheirão para fazer estas bombas todas. Quer deixá-las aqui a ganhar bolor? O que pretende fazer, afinal?
– É verdade – respondeu o general. – Temos mesmo de começar esta guerra. Se não, nunca mais consigo fazer carreira.
E declarou guerra.

Quando se espalhou a notícia de que ia rebentar a guerra atómica, todos ficaram loucos de medo:
Quando os átomos estão juntos harmoniosamente, tudo funciona na perfeição. A vida assenta nesta harmonia.
Mas quando se consegue quebrar um átomo… e as suas partes vão bater noutros átomos, que vão bater noutros átomos ainda, e assim por aí fora… dá-se uma explosão terrível! É a morte atómica.

Pois bem, o nosso átomo estava triste, porque estava metido dentro de uma bomba atómica. Junto com outros átomos, aguardava o dia em que a bomba seria lançada e eles se quebrariam, destruindo todas as coisas.
Ora, devem saber que o mundo também está cheio de generais que passam a vida a coleccionar bombas. E o nosso general enchia o sótão de bombas.
– Quando tiver muitas – dizia ele – vou fazer uma linda guerra!
E ria-se.
Todos os dias, o general subia ao sótão e punha lá uma bomba novinha.
– Quando o sótão estiver cheio – dizia ele – vou fazer uma linda guerra!
Como se pode não ser mau, quando se tem tantas bombas assim à mão?

As mães estavam mais contentes. Mas também os pais. Todos, aliás. E o general?
Agora que já não havia guerras, foi despedido.
E, para utilizar a farda cheia de galardões, foi para porteiro num hotel. E como agora todos viviam em paz, vinham muitos turistas ao hotel. Até os inimigos de outrora. Até os soldados que antes o general tivera sob as suas ordens.

O general, quando entravam e saíam do hotel, abria a grande porta de vidro, fazia uma vénia ridícula e dizia:
– Bom dia, meu senhor!
E eles, que o reconheciam, diziam-lhe de muito má cara:
– Não tem vergonha? O serviço é péssimo neste hotel!
E o general ficava corado, corado, e calava-se.
Porque, agora, já não valia nada.




Umberto Eco

A bomba e o general

Lisboa, Quetzal Editores, 1989




quinta-feira, agosto 13







"Essa coisa de ressuscitar ao terceiro dia, mesmo que fosse ao terceiro do terceiro - palhaçadas, não. Morrer, mas por inteiro».



sábado, novembro 15






novos conceitos de comunicação









Juan Munõz: Retrospectiva - Fundação Serralves até 18 Janeiro 2009



sábado, outubro 4




7 Artistas ao 10º Mês



Revelar o invisível







"respeitar o espírito que esteve na origem desta iniciativa, escolhendo artistas de
algum modo invisíveis, embora já com algum percurso expositivo, mas que, por uma ou outra razão, têm permanecido nas margens do sistema comercial".

Joana Bastos, S�érgio Dias, Raquel Feliciano, Andr�é Gon�çalves, Jorge Maciel, Jo�ão Ferro Martins, Eduarda Silva

Fundação Calouste Gulbenkian
02-10-2008 a 11-01-2009
Terç�a a domingo das 10h00 à�s 18h00






domingo, agosto 10





JOHN CAGE - ARIA






this piece is dedicated to Cathy Berberian (clic), one of the most talented voices in 20th century.

The first thing that one can notice is the particular but at the same time simple musical notation traceable in the score: a sequence of curved lines each one roughly describing the pitch path requested for the emission of sound





segunda-feira, agosto 4











foi ontem. num fim de tarde fabuloso no Parque Eduardo VII. com puffs no meio do jardim. sol e sombra! onde distribuíam bebidas geladinhas! humm! soube tão bem!
parabéns groove 4tet. adorei! em especial o sax do Zé Maria.



sexta-feira, julho 18






Não importava que a história já tivesse começado, porque há muito que o Kathakali descobriu
que o segredo das Grandes Histórias é elas não terem segredo nenhum.

As Grandes Histórias são aquelas que já ouvimos e queremos voltar a ouvir. Aquelas onde
podemos entrar e morar confortavelmente. Que não nos enganam com calafrios e finais acrobáticos.
Que não nos surpreendem com o imprevisto. Que são tão familiares como a casa onde moram.
Ou o cheiro da pele de um amante. Sabemos como acabam, porém, ouvimo-las como se não soubessemos.

Nas Grandes Histórias quem vive, quem morre, quem encontra o Amor, é quem não encontra. E contudo
queremos saber de novo...

É esse o seu mistério e a sua magia.
(O Deus das Pequenas Coisas - Arundhati Roy)
Bom fim de semana



segunda-feira, julho 14





persona


ingmar bergman





theory of the double
the concept of the double
the identity,
loosing your identity.
everything you want to be
is in this media archetype
but then
when you have it
its a major let down
a major disappointment